Dra Catarina Moura pires 

Bem vinda,

Esta pode ser uma nova fase, uma casa onde ainda não habitaste. Talvez seja a primeira vez, ou pelo menos, a mais intensa. Acordas de manhã e não te reconheces no espelho, não sabes quem és, nem sabes se estás viva. Estás só aí… sabes que respiras, sobrevives… mesmo que faças muitas coisas, há uma parte tua totalmente desconectada de ti, e dos teus… tão assustador …. O teu cansaço é infindável mas mesmo assim sentes que não podes nem tens permissão para parar … é continuar … cada vez mais próxima de um robot…. Tens dias de apatia, outros de gritos, choro, desespero, frustração, solidão, tristeza, culpa… tu não te percebes … e os teus, quem te rodeia, também não.

Em alguns momentos ris, sorris, estás ali, tão presente, tão viva, ali olho no olho com teu bebé, por momentos é maravilhoso, uma nova emoção e consegues aí ficar… noutros dias, ir lá assusta… é a dor da responsabilidade e do luto de ti, do casal que foram, das saídas, dos banhos tranquilos, e até de comer sentada.

Há dias que queres voltar atrás no tempo, que colocas tudo em causa, e depois te castras, culpas e martirizas SÓ por pensar nisso. Queres voltar a rir, a sorrir, a te ligares a ti, em segurança, sem medo. Queres também ligar-te ao teu companheiro/a mas também não sabes quem é essa pessoa…. Como fazer?

Tu não estás errada… tudo o que sentes é válido … não estás sozinha … tu tens direito a ser …. vai passar e tu serás capaz de o fazer… tu tens tudo dentro de ti… só precisas de um mapa, e de uma luz. Não ouças quem te impõe ideias de como fazer ou de como te deves sentir, não deixes que te culpem ou que te façam sentir culpada… ninguém é dono da verdade… na há uma verdade, existes tu, os teus e a vossa relação, única, irrepetível e amorosa. Mesmo que em alguns dias aches que o amor pode ter fugido.

Tu tens o poder, e será feito como escolheres. Podes fazer sozinha comigo, num processo individual, ou agregar o teu companheiro/a. A forma é diferente mas o conteúdo é o mesmo. Em alguns casos será mais fácil fazer sozinho e noutros será mais fácil fazer acompanhado. É uma escolha! Podes fazer só tu, isso basta, porque um consegue fazer a diferença. Ou podem escolher fazer a dois, mergulharem no seu eu individual, saber o que sentem, e como esses sentimentos “dançam” uns com outros, para depois os comunicarem bem, aproximando-se. Há uma nova identidade de cada um de vocês e deste novo casal. Mas tu, ou vocês, vão descobrir, admirar e amar novamente.

Prometo que irás voltar a ti própria, conhecer te novamente para depois te conseguires conectar contigo e com os teus. Avança, não tenhas medo, mesmo com dúvidas, avança. Eu vou estar aqui contigo ou convosco de coração aberto, com partilhas de algumas das minhas feridas deste processo tão belo e poderoso que é a entrada de uma família na maternidade.